quarta-feira, 15 de abril de 2009

'CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO'

Bebi, confesso.

Bebi muito.

Bebi tudo.

Bebi até ficar lúcida. E encarei – de frente, de costas, de lado, de viés – tudo aquilo o que dói em mim. E só vi você. Vi você de frente, de perfil, de cima, de baixo. Vi você de mocinho, de bandido, de galã, de assassino da minha paz, da minha tranquilidade. Não você, propriamente, mas a falta que você deixou no seu lugar, me fazendo companhia nas noites de frio, nas noites de sexta, nas noites de lua, nas noites de insônia. Sua falta me assassina. Sua falta me dói como um atropelamento. Fraturas múltiplas, hemorragia interna e parada cardíaca. Sua falta me dói como um infarto.

Só um tratamento me traz de volta à vida: sua vinda. Sua volta. Sua visão, sua imagem, você inteiro pra mim, em mim, em mim.

Meu juízo sai pra passear todas as vezes que a sua lembrança me bate à porta. Quando sua ausência me visita, sirvo a ela lágrimas quentes com um toque amargo, suspiros de moça e espetinhos de coração. Sirvo-te rins, fígado, língua – trocando em miúdos, o que sobra de mim depois da dor que me dilacera me fazer em postas, temperar com sal e cozinhar em banhomaria.

Será que ainda te sirvo? Será que dizer teamo ainda serve de alguma coisa? É possível, ainda, ser feliz, ou é um plano que terei que adiar para a próxima encarnação?

Acho que a felicidade de te ter está fechada a vácuo, num saco plástico, dentro do freezer. Prazo de validade indeterminado.

PONTO FINAL

Sim, cruel, pode até ser. Dura. Fria? Espero que sim, na verdade; é algo que levei anos para conquistar. Mas nunca poderei ser acusada de desleal ou injusta. Ainda que eu me roa, ainda que me doa, ainda que me dobre: mantive a lealdade, ainda que não a mim, e este é meu dilema. Se você estivesse no meu lugar, como agiria? Fácil falar, não é? Facílimo falar sem jamais se colocar no lugar do outro. Com os meus óculos de grau, como você veria o mundo? Como você se veria se tivesse meus olhos, meu cérebro, minhas entranhas? Se as lágrimas que contive, abafadas pela injustiça que me foi feita, escorressem por dentro em você, em vez de mim, o que você faria diferente? Seria alguém melhor do que eu sou agora? Sou quem pude ser, faço o que posso a cada momento sem deixar de ser quem me fiz e me faço a duras penas a cada sol, fiel à essência de meus valores, meus dois valores, mais que qualquer outros.

Acho estranho, de fato, acho. Amizades se fazem, se vão, são como vento. Acho estranhíssimo. "Seja o vosso sim, sim; e o vosso não, não". Difícil lidar com esse mundo de hoje, quando um "sim" quer dizer "às vezes"; e um "não", "quem sabe?".

Cansada de só fazer o errado, aos olhos dos outros, toda vez que faço o mais certo possível para que os danos de toods sejam, ao menos, minimizados. Porque não existe escolha sem dano, nessas situações. E quem ficou danado? E quem deveria ficar? O que está errado, afinal: o erro menor entre os que podiam ser escolhidos, de danos menos extensos, já que não há como escapar ileso; ou os olhos dos que me vigiam, e os dedos acusadores dos que me julgam?

E que amigos são esses os que me ouviram só para me contar? São puros e imaculados como os dedos de Deus? É isso, acaso, a lealdade? Vírgula.

Não quero mais viver no meio disso, no meio dessa gente que não se respeita, que não me respeita, que me conta e me espalha no ventilador. Deslealdade. Injustiça. E eu, que tanto me esfolo pensando em não jogar as palavras dos outros no vento... Que recebo? Dedos acusadores, "porque você é isso, porque você é aquilo, não olho na sua cara porque fulaninho disse isso, porque me disseram não-sei-que mas não posso dizer o santo..." Antes pusesse todos no fogo, ardessem e se purificassem na fogueira de suas vaidades humanas, instintos animais. Não quero mais ser conivente com nada disso, visto que um abismo nos separa. Eu vim de algum lugar fora da estratosfera, e de hoje em diante só vou agir de acordo com os meus.

"Felizes aqueles que nada têm, pois nada lhes pode ser tirado nem diminuido".

quinta-feira, 2 de abril de 2009

AINDA EM CONSTRUÇÃO

Trago dentro em mim uma memória ancestral que não sei de onde. Trago aqui as lembranças das coias todas, 237 eras entranhadas nos poros da minhalma.

Lembro o gosto amargo de sal na boca das mulheres que perderam seus maridos para o mar tenebroso, entregues ambos à tormenta. Lembro (...)

Tudo o que dói neste mundo dói em mim. E o doer não me pesa; antes me liberta, pois é a certeza de que a dor não é a exceção, e isso faz de mim alguém mais plausível do que seria caso não me doesse.

Tenho as letras de todos os poemas perdidos aqui dentro... Ecoam, desconexas, perdidas umas das outras e de mim, em um emaranhado de frases soltas e palavras sem sentido que, às vezes, me escapam pelos olhos.

LIÇÕES

É melhor começar a aprender o que a vida quer lhe ensinar. Repetir de ano é muito ruim. Se não se aprende por bem, se aprende por mal.
Se tudo fosse tão simples como ser ou não ser...

Ser, não ser. Ser, deixar de ser. Não ser e querer ser. Ser, deixar de ser sem querer deixar de ser, voltar a ser. Precisar ser e não querer. Precisar ser e não poder. Ser e não querer ser, deixar de querer ser, não ser. Ser, deixar de ser e voltar a ser daí a três encarnações. Eis as questões.