sábado, 21 de novembro de 2009

TÍMPANOS

Tenho um tímpano nos ouvidos, pronto a me estourar os tímpanos.

Meu coração saiu do seu recuo da bateria e agora, além do peito, ocupa toda a minha garganta, meus seios nasais, o canal auditivo e as têmporas. Bate como um surdo, alheio ao incômodo que causa aos que ouvem, berrando para toda a bateria que é hora do desfile. O som grave bem marcado combina mais com o novo sambenredo, mais do que o choro do cavaco e o lamento da cuíca. Ele repercute por todo o meu corpo, se espraiando, acordando os tamborins e os sinos de vento que dormiam mudos e empoeirados.
 
Tum-tum. Tum-tum. Tum-tum-tum-tum-tum.

REVIRÃO

E eis que, de repente, dou de frente com o definitivo da vida. Entendo finalmente a frase "o começo do fim da nossa vida". Pois o fim começa aqui, inexoravelmente. Este é o ponto da virada, quando toda uma nova paisagem se descortina além da montanha.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

TAQUICARDIA

E então, outro ciclo se cumpre, fatal e implacável. Fecha-se meu ano, fecham-se (mais) feridas, trancam-se portas. Jogo fora depressa a chave, para não cair em tentação. Fecho as portas e abro a janela, para que o sol me veja... E a ele me mostro toda, lângida, devassa, deixando que ele me desnude roupa por roupa, me limpando do mergulho que dei, de boa vontade, na fria escuridão. (De boa vontade, mas já chega.) A ele mostro o peito aberto, para que o sol me queime e nele eu me consuma – no calor do sol ou no calor que o frio na boca do estômago me provoca no rosto, na espinha, no ventre, no sexo. Leves tremores de terra. As borboletas no meu estômago provocam sete ponto quatro na escala richter, e ao soterramento me abandono, embriagada e entorpecida pelo desejo que (me) acorda depois de sufocado por nove metros de inundação.

Já escrevi melhor. Mas há muito tempo não me sentia tão bem.