E eis que, de repente, tudo se ressignifica.
Tudo é relativizado pelo cruzamento de nossos caminhos. E, quando não posso ver a estrada à frente, após a curva; quando choveu demais e o barranco desmoronou; quando os buracos no asfalto quebram o eixo do meu coração, nem assim me encontro mais sem direção. Pois você me guia como um gps, me orientando na rota exata da certeza do amor pleno, além da paixão embriagada; me conduzindo para nosso futuro (assim mesmo, no singular), que sempre esteve ali, ainda que oculto pelo nevoeiro. Você faz tudo ficar mais fácil: farol de neblina, computador de bordo, aquecedor. Você é a minha chegada no fim de todas as corridas, de todas as largadas; o ponto final de todas as minhas linhas. É a certeza de que nada que me doa, retarde, engarrafe é assim tão importante, pois em relação a você meu movimento é sempre retilíneo uniforme.
Por tanto tempo rabisquei pensamentos em pedaço de papel, panfleto de propaganda, resto de bloco, de trás pra diante no caderno... sempre à procura de uma costura pra todos esses retalhos. Hoje entendo que meu livro é mesmo assim: um não-livro. E percebo que cada trecho está pronto, ainda que trecho, e concluído porque começa no ar e termina no estalo. Porque trechos, retalhos, reticências, miçangas, miudezas... É disso que sou feita. [E começo a achar que 2+2>4.]