sexta-feira, 27 de março de 2009

VEM, VAMOS ALÉM QUE A VIDA É PASSAGEIRA

Quase não penso mais em você.

O ruim é que, quando penso, o vazio que lateja no meu peito, no meu corpo, na minha alma inteira, é tamanho, que nada nunca o preenche. Minha garganta dói a sua ausência, meu corpo inteiro te reclama, te exige, te demanda, te grita, e minha garganta dói.

Não penso em você de propósito.

Mas a vida parece querer empurrar meu olhar pra você, sempre, sempre, de uma forma ou de outra. No show que passa na tevê. Na música que alguém toca numa balada qualquer. Na bebida que me oferecem, na cantada que me passam, no cabelo que elogiam...

Meu Deus, meu Deus, que buraco é esse? Que cicatriz é essa que nada nunca tampa, nada nunca cura, nada nunca, nada, nunca nada... Cadê você, quando é que você vem, quando é que você vem de vez pra mim, pra devolver tudo o que você me roubou, minha paz, meus dias iguais, o rosto seco, o desconhecimento de tantas infinitas coisas... Quando penso que te esqueci, me vem a vida ou sei lá que diabos, me empurrando qualquer coisa que cheira a você, rescende a você, e tudo isso me dói, me dói, me dói...

São flashes do seu sorriso, são pequenos trejeitos, são gírias que me pego falando. Matam mais que uma punhalada nas costas.

Sua falta de palavras me rasga, não simplesmente quando elas me faltam, mas quando elas vêm, poucas, escassas, frias, distantes como você agora. Tão diferentes das palavras-ondas-sonoras que você me dirige quando está aqui, ao meu alcance, ao alcance dos meus beijos, dos meus braços, dos meus lençóis...

Que merda, que merda, que merda. Isso é tudo. Que merda. Queria não te querer assim, mas quando sua falta bate, não bate: me espanca. Me chicoteia. Me tortura. Sua falta me agride. Sua falta me fere, gera lesões corporais, e nem posso te processar por perdas e danos, porque não há mão aqui, nem a me bater, nem a me acalentar.

Ainda estou nas suas mãos. Será que você sabe?

E que sentido tem isto tudo? Meu Deus, meu Deus, meu Deus, por que é que tudo isso não acaba logo? Que mal fiz eu aos deuses todos? Quando é que eu vou voltar pra casa?

Sua falta se deita comigo todas as noites. Sua falta me sufoca, me tira o ar, me dá asma. Sua falta é a sensação de que eu, permanentemente, estou esquecendo alguma coisa. Sua falta me esgana, me enforca, me estremece dum jeito que eu me olho e penso não sou eu, essa não sou eu. Essa que eu sou não é quem eu era, eu me quero de volta, eu preciso que você volte.

Queria que não fosse eu, mas sou o que fizemos de mim, o que pude fazer agora que você se foi; o que a vida fez de mim, o que pude fazer com o que sobrou. Quero te ter a metro, não a retalho, Deus, olha pra isso, olha pra mim e tem dó, tem dó, mais que justiça, força ou coisa que o valha, agora preciso da sua piedade, senhor, antes que eu me afogue, me afogueie, me atole, me alheie de todo o resto, meu Deus, meu Deus, meu Deus.

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