Talvez seja só pra isso que eu esteja aqui: pra dar pezinho pros outros.
Pra fazer escada, minitrampolim, pra que os outros pisem, pulem, se impulsionem e saltem. Aquela de que todos precisam, aquela que é necessária, nunca querida; que é imprescindível, mas nunca lembrada quando nada falta. Talvez eu faça parte do universo das coisas úteis, alicate na maleta de ferramentas, e só. Talvez eu paire no canto da memória de todos como o durex que se esqueceu de comprar, o superbonder conservado na geladeira, o estepe na mala do carro, aquilo que deve estar ao alcance da mão quando preciso, mas não precisa se manter no campo de visão de ninguém. Talvez sim.
Mas minha alma anseia pela esfera das coisas belas, das coisas doces, das coisas inúteis; de tudo o que não é necessário e por isso tão desejado, como a música, como o arcoiris no fim da tempestade, como o balé, como o teatro, como os livros de ficção. Não, nada disso é necessário, e no entanto minha alma secaria antes de me chegar aos olhos se não tivesse sempre uma boa dose de tudo isso... Não como uma planta definha sem sol, mas como um gato que passa seus dias numa casa sem tapetes, almofadas e novelos de lã... Como um prato de mingau de fubá sem sal.
É chato ser útil. Queria ser totalmente desnecessária. Sair da estante dos eletrodomésticos, das ferramentas, dos equipamentos, das mileuma coisas úteis que as pessoas inventaram para que outras pessoas pensassem que tudo aquilo é imprescindível. Não sou imprescindível, e isso me fica claro dia após dia. Todos fazem questão de me carimbar isso na pele, bem entendido. Alguém tem que fazer o serviço sujo. Alguém tem que fazer o serviço. Alguém tem que fazer o que qualquer um poderia ter feito, mas ninguém nunca faz. Alguém tem que levar a bronca, ouvir a cobrança, alguém tem que ficar olhando as crianças enquanto o casal vai pro cinema.
Tudo isso me aperta a garganta, mas de dentro, como se uma corda me fosse passada ao contrário, tentando explodi-la em vez de estrangulá-la. Tudo isso me machuca como aquele pedregulho que entrou entre o dedo anular e o mínimo do pé, dentro da meia justa no tênis apertado: roça, roça, roça, irrita, fere, mas sem sangrar de fato, sem nunca precisar dar ponto.
Há alguém no mundo que me olhe com outros olhos?
Por tanto tempo rabisquei pensamentos em pedaço de papel, panfleto de propaganda, resto de bloco, de trás pra diante no caderno... sempre à procura de uma costura pra todos esses retalhos. Hoje entendo que meu livro é mesmo assim: um não-livro. E percebo que cada trecho está pronto, ainda que trecho, e concluído porque começa no ar e termina no estalo. Porque trechos, retalhos, reticências, miçangas, miudezas... É disso que sou feita. [E começo a achar que 2+2>4.]
quarta-feira, 22 de julho de 2009
terça-feira, 21 de julho de 2009
WHAT A CLICHÉ...
Tenho pensado em ir embora...
Será que é possível? Como nos filmes, ter uma segunda chance, começar de novo, lá do princípio? Deixar pra trás tudo o que se foi, o que se fez, o que se quis... Deixar pra trás todas as relações utilitárias, os sonhos sufocados, as esperanças esvaídas, os projetos paralisados, como quem lança uma roupa enxovalhada no cesto e tira nova calcinha da gaveta; como quem começa uma folha nova deixar seus rejeitos, seus complexos, seus trejeitos – começar num novo lugar a ser uma pessoa nova? Deixar de ser aquela a quem todos usam e, como nos filmes, passar a ser aquela a que todos almejam, por ser nova? Não só nova naquele lugar, mas porque quando se muda de lugar se passa, de fato, a ser uma nova pessoa... É possível?
E, mais que isso, a verdadeira pergunta, aquela que me angustia no âmago, que está no cerne de todos os medos: será que eu teria força suficiente para tanto, para tal feito? Será uma questão de coragem? Será mera covardia?
E para onde ir? Em qual dos infinitos pontos no googlemaps espera o meu futuro? Por que fui nascer precisamente aqui? Porque fui nascer precisamente aqui, é aqui que preciso ficar? Ou essa imprecisão de meu navegar me é intrínseca, e implica sempre em desbravar mais e mais mares de morros, dentro e fora de mim? Será que depois de um tempo nessa nova coordenada eu ansiaria por novas latitude-longitude, e meu coração-gps me lançaria de novo no caos, me enviaria por um novo itinerário a um novo cais?
Quantos trópicos preciso cruzar dentro de mim para fazer novo meu lugar, para me fazer nova neste mesmo lugar? Quantos graus preciso deslocar, e em que sentido? Que sentido tem ficar? Que sentido tem partir, meu Deus? O que me aguarda depois da próxima curva?
Tudo pra trás, todos pra trás, tudo o que se foi, que se fez, que se quis; tudo o que foi ruim e o que foi bom, como quem tira uma pele por inteiro, exoesqueleto de mágoas, rejeições e mitos; será que dá?
Isso tá horrível, eu sei. Nada inspirada. Apenas precisando gritar, como sempre; mais do mesmo. Nada de novo debaixo do sol.
Será que é possível? Como nos filmes, ter uma segunda chance, começar de novo, lá do princípio? Deixar pra trás tudo o que se foi, o que se fez, o que se quis... Deixar pra trás todas as relações utilitárias, os sonhos sufocados, as esperanças esvaídas, os projetos paralisados, como quem lança uma roupa enxovalhada no cesto e tira nova calcinha da gaveta; como quem começa uma folha nova deixar seus rejeitos, seus complexos, seus trejeitos – começar num novo lugar a ser uma pessoa nova? Deixar de ser aquela a quem todos usam e, como nos filmes, passar a ser aquela a que todos almejam, por ser nova? Não só nova naquele lugar, mas porque quando se muda de lugar se passa, de fato, a ser uma nova pessoa... É possível?
E, mais que isso, a verdadeira pergunta, aquela que me angustia no âmago, que está no cerne de todos os medos: será que eu teria força suficiente para tanto, para tal feito? Será uma questão de coragem? Será mera covardia?
E para onde ir? Em qual dos infinitos pontos no googlemaps espera o meu futuro? Por que fui nascer precisamente aqui? Porque fui nascer precisamente aqui, é aqui que preciso ficar? Ou essa imprecisão de meu navegar me é intrínseca, e implica sempre em desbravar mais e mais mares de morros, dentro e fora de mim? Será que depois de um tempo nessa nova coordenada eu ansiaria por novas latitude-longitude, e meu coração-gps me lançaria de novo no caos, me enviaria por um novo itinerário a um novo cais?
Quantos trópicos preciso cruzar dentro de mim para fazer novo meu lugar, para me fazer nova neste mesmo lugar? Quantos graus preciso deslocar, e em que sentido? Que sentido tem ficar? Que sentido tem partir, meu Deus? O que me aguarda depois da próxima curva?
Tudo pra trás, todos pra trás, tudo o que se foi, que se fez, que se quis; tudo o que foi ruim e o que foi bom, como quem tira uma pele por inteiro, exoesqueleto de mágoas, rejeições e mitos; será que dá?
Isso tá horrível, eu sei. Nada inspirada. Apenas precisando gritar, como sempre; mais do mesmo. Nada de novo debaixo do sol.
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