quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

ELA-ELISA ou CLAVE DE LUA

(Para aquela que não sou e preciso ser, Elisa, ser de vento e música, alma sem corpo que perambula por sobre os textos, por sobre os palcos, e tenta baixar em meu corpo ainda recheado de mim, incorporar, e sempre evapora antes que eu a apanhe no ar. Pour Elise, minha personagem em "As Bruxas de Salém").


Elisa,

eu, do lado de cá da máscara, me observo em ti. Continuamente me observo em ti, e te pergunto:

Que parte de mim tu és?
Que parte de mim é esse eclipse, névoas, crepúsculos?
Que parte de mim alimentará teus olhos grandes e sonoros, tuas mãos pequenas e nervosas, tua garganta seca, boca amarga, coração duro? Tua frieza de mármore? Tua falta de lágrimas?

E tu, insensível, com o que me respondes?

Um sutilíssimo sorriso. Delicadeza. Silêncio.

Em que semínimas e colcheias tu te escondes?
Em que pausas?
Em que pautas?
Em que pautas tua dignidade de prata quando a clava da justiça esmorece sob o sol?

Pontua. Pontua. Pontua. Colcheias... Elisa-colcheia, meio tempo, meia lua. Contida por excelência, calada pela metade, amarga por inteiro.

Flutua, flutuuuuuuuuua entre legattos e stacattos, música ligadura de união, silêncio ligadura de expressão...

Tu não me respondes, e nessa tua resposta feita de mudez, melodia e olhos sem sal, mostras que a resposta está dentro em mim.

Mais que as notas, tu és as pausas, figuras negativas. Silêncios.

Elisa, minha querida, minha cara indecisa...

Eu, que sou um ser de palavras, emudeço diante de teu silêncio... Para falar a ti pego emprestadas as palavras do Baleiro:

Vem comigo, vem
Já tenho quase tudo que me basta
A flor no pasto
A mesa posta
Minha música e teu (?) calor
Agora só me falta aprender o silêncio.

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