A certeza de que havia um mundo além deste lhe dava alento. Fazia-lhe sentir que, algum dia, fora do tempo, poderia olhar de novo nos olhos dele e sorrir, e lhe dizer todas as palavras que agora lhe decompunham no peito, lhe doíam na garganta e lhe transbordavam nos olhos. Poderia lhe agradecer por tudo o que havia aprendido com ele. Poderia dizer o quanto o amaria pra sempre, ainda que outros viessem, pois todo amor, ainda que acabe, é sempre eterno; é eterno o que nos moldou a alma e nos tornou alguém melhor simplesmente por sairmos de nós mesmos.
As lágrimas lhe banhavam o rosto enquanto ela tomava café-com-leite mais rosquinhas de amendoim, e pensava nisto: um dia, fora do espaço e do tempo, lhe diria o quanto ele fora e sempre seria importante; ele sorriria de volta já acima de todas as mágoas mundanas, e nada mais precisaria ser dito.
Respira fundo.
Por enquanto, ela ainda estava presa no tempo...
Por tanto tempo rabisquei pensamentos em pedaço de papel, panfleto de propaganda, resto de bloco, de trás pra diante no caderno... sempre à procura de uma costura pra todos esses retalhos. Hoje entendo que meu livro é mesmo assim: um não-livro. E percebo que cada trecho está pronto, ainda que trecho, e concluído porque começa no ar e termina no estalo. Porque trechos, retalhos, reticências, miçangas, miudezas... É disso que sou feita. [E começo a achar que 2+2>4.]
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